Quem é você?

por | ago 9, 2016 | 0 Comentários

“Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres”. (Jo 8.36)

Construímos nossa identidade de maneira pouco saudável. Agregamos o modo como fomos tratados pelos nossos pais, adicionamos os traços da cultura vigente, a moral como orientadora para designar o “bem” e o “mal” e carregamos com o tempero dos nossos traumas. O resultado disso é um holograma, uma imagem de nós mesmos. Em grande medida, somos o que queremos que as pessoas pensem que somos. Ou somos o que as pessoas querem que sejamos. Assim, a vida é literalmente um grande palco e nós os seus atores.

A raiz da palavra ator é grega. Ela aparece muitas vezes no Novo Testamento, especialmente na boca de Jesus. Ele a usa em seu sentido pejorativo contra a falsidade de algumas pessoas de seu tempo. Em nossas Bíblias, aparece traduzida como hipócrita (cf. Mt 23.13-15, por exemplo). Comumente nós chamamos de hipócrita aquela pessoa dissimulada, que não faz o bem que manda os outros fazer, que está atolada no pecado e grita moralismos em ouvidos alheios, que condena nos outros o que ela mesmo pratica em secreto. Mas, acima de tudo, o hipócrita é o ator da sua própria existência, aquele que quer ser uma coisa que não é, ou que finge ser uma coisa que não é. O hipócrita é aquele que assumiu uma imagem de si e matou seu verdadeiro “eu”.

Quem define quem você é? Ou melhor, o que define quem você é? Você é o que pode comprar? Você é alguém por causa do carro que tem, da casa onde mora, dos valores que são movimentados em sua conta bancária? Você é alguém por causa da grife da sua roupa? Você é alguém sem sua maquiagem, sem os saltos altos, por trás da máscara estética? Quem é você sem o seu título, sem o diploma, fora da função que hoje ocupa? Sobra alguma coisa?

Todas as vezes que atrelamos o ser alguém a coisas materiais, títulos, status social, estamos trabalhando com a nossa imagem, não com o nosso ser. Faz da nossa vida uma miragem para os outros e para nós mesmos. E por não ser verdade, não produz vida. É a morte da existência, é auto-engano, é como correr atrás do vento, é ilusão. E nada maquia mais o ser do que a religião! Jesus pagou com a vida por mostrar aos fariseus quem eles eram por trás da maquiagem religiosa.

Quem sou eu? A resposta não me é dada pelo meu título de pastor. Nem das expectativas dos membros da igreja. Nem do que a minha esposa me diga de bom ou ruim. Nem do modo como meus pais me educaram. Nem da pressão consumista e materialista do mundo à minha volta. Não vem nem de mim mesmo! Todas essas coisas certamente me influenciam, mas são apenas camadas cobrindo a verdade.

Eu sei quem sou quando meus olhos fitam a cruz e vêem Jesus dizendo: “Está consumado!” A minha imagem de bom moço se dissipa, pois ele teve que morrer por mim. Não há motivo para orgulho fora de Jesus. Mas também minha culpa é dissipada e o amor de Deus me abraça incondicionalmente. Não tenho que provar mais nada para ninguém. Não tenho que satisfazer expectativas alheias. Não tenho que comprar o carro dos meus sonhos para ser feliz. Posso melhorar a minha vida, mas não sou escravo da idéia de que se isso não acontecer não serei feliz. Não tenho que ser o que meus traumas disseram que eu teria que ser. Não tenho que correr e me desgastar para ser alguém, pois, em Cristo eu já sou.

A verdade liberta! Não fomos chamados para sermos atores, mas para sermos quem somos em Cristo!

Se você tem ouvidos, ouça!

Daniel Schorn

Pastor luterano há dezoito anos, é casado com a Betina e pai do Nicolas e da Rebeca.

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